terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Monsenhor Magi nos bastidores políticos.


Sabe-se que monsenhor Nazareno Magi extrapolou os limites da atuação meramente paroquial e religiosa e influenciou nossa cidade também politicamente e culturalmente. Abaixo exponho aos leitores um fato curioso dos bastidores políticos da época, relatado pelo então seminarista Geraldo Gomes (hoje, monsenhor Geraldo Gomes da Silva).

Monsenhor Geraldo foi aluno de monsenhor Magi no final da década de 40 e foi seu auxiliar na paróquia Santo Antônio até seu falecimento em 1972. Até pouco tempo atrás, enquanto padre Constantino era pároco da matriz Santo Antônio, monsenhor Geraldo sempre vinha para Americana auxiliá-lo na Semana Santa.

Depois da morte de monsenhor Magi, monsenhor Geraldo Gomes escreveu uma biografia do monsenhor Magi e um tributo ao seu tutor. Abaixo, deixo um trecho da biografia onde monsenhor Geraldo conta um fato curioso envolvendo dois grandes nomes da nossa cidade:

Durante a construção [da nova matriz], Americana passou por várias crises políticas e econômicas, estas principalmente por contar com um parque industrial quase que exclusivamente têxtil. Monsenhor, sempre presente e atento, tornou-se um importante mediador, atuando como força aglutinadora de todos os empresários envolvidos nessas crises.
Numa dessas crises, mais política do que econômica, chegou a haver verdadeira ruptura entre duas famílias de importantes empresários ligados diretamente às obras da nova matriz. Os protagonistas maiores desse episódio foram os Irmãos Abdalla, de um lado, e os Irmãos Pinto Duarte, de outro.
Como se tratava de líderes incontestes do empresariado local, essa ruptura chegou a ocasionar verdadeiro impasse, com enorme prejuízo para a cidade, com reflexos negativos na construção da Nova Matriz. A coisa tanto se agravou que os citados cidadãos andavam armados com ameaças até de execução.
Foi quando Monsenhor resolveu agir. Convocou a Comissão de Obras, da qual aqueles cidadãos eram membros proeminentes, para uma reunião na casa paroquial. O depoente, então seminarista maior, que estava de férias, esteve presente a essa reunião e dá testemunho do ocorrido nela.
Monsenhor começou a reunião perguntando ao senhor Nicolau João Abdalla se estava armado, o que, inicialmente, ele negou. Confiado na liberdade que tinha com o questionado, dada a longa convivência, e na sua autoridade de vigário, ordenou que ele colocasse a arma que visivelmente portava, sobre a mesa. No que foi obedecido.
Passou em seguida a chamar à responsabilidade os presentes, conclamando a todos para se desarmarem, não apenas fisicamente, mas também e de modo especial espiritual e psicologicamente, fazendo-os ver que a cidade exigia a união de todos, único meio de superar a crise econômica que a todos prejudicava. No encerramento dessa reunião, conseguiu pacificar os litigantes, reaproximando suas famílias, cujos chefes se abraçaram dando por encerrada a desavença.
Durante todo o tempo da construção, e, principalmente nos momentos de crises, que eram  muitas e cíclicas,  Monsenhor precisava fazer milagres para manter em dia as folhas de pagamento dos operários da construção. Para isso, chegava até envolver suas economias pessoais. A verdade é que os pagamentos nunca se atrasaram.
(Mons. Geraldo Gomes da Silva -  em sua biografia sobre Mons. Nazareno Magi)

Monsenhor Magi não só influenciou na vida dessas importantes figuras da nossa cidade, como também conseguiu delas terrenos e verba para suas obras. Escreverei mais sobre as diversas obras de monsenhor Magi em outra postagem...

A foto ao lado é de fevereiro de 1953; está completando, portanto, 60 anos. Nela vemos segurando o andor com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, Jorge Arbix, à esquerda da foto e Nicolau João Abdalla, à direita.

Jorge Arbix foi o 15º prefeito de Americana, governando de 1952 a 1955 (atualmente estamos no 27º prefeito, com Diego de Nadai).

Para quem quiser saber mais sobre o contexto da foto ao lado, acessem o site do projeto O Construtor e vão até a seção "Imprensa". Acessem as matérias do jornal O Liberal; trata-se da matéria do dia 11 de setembro de 2012, intitulada "Página esquecida", assinada por Luciano Assis. Esta foto não saiu na matéria, mas é do mesmo dia da visita da imagem de Nossa Senhora à Americana, evento que reuniu cerca de 15 mil pessoas: http://www.oconstrutor.art.br/

Para finalizar esse post, deixo mais uma foto, semelhante àquela do começo, de monsenhor com vários políticos e empresários. Essa foto estava na exposição do centenário do monsenhor em dezembro de 2012 e algumas pessoas questionaram se a legenda com os nomes estava mesmo correta. A legenda da foto foi tirada do livro "Um século de fé", livro temático do centenário da paróquia Santo Antônio. Eis a foto e os nomes abaixo. Se alguém identificar algum equívoco, ou tiver certeza de sua autencidade, por favor deixe registrado nos comentários do artigo.


Da esquerda para direita: Atílio Bosquiero, Paschoal Fortunato, Francisco Pinto Duarte, José Francisco Pântano, Thomaz Fortunato, Antônio Zanaga, Pe. Airton Blumer Bastos, Monsenhor Magi, um sacerdote visitante, Nicolino Vidrani, José Valentim Casati, José Aranha Neto, Antônio Pinto Duarte, Ivo Di Grazia e Onofre Boer.

Se não me engano, algumas pessoas questionaram o nome Nicolo Vidrano, tanto quanto à pessoa, quanto à grafia e que o sacerdote visitante seria o padre salesiano José Del Mônaco. A data da foto não foi publicada no livro.

Um comentário:

  1. Eram outros tempos! Como a Igreja era forte e respeitada. Até pela fisionomia das pessoas da foto percebe-se a saúde moral da sociedade daqueles tempos.
    Hoje, meu Deus, que clero, que hierarquia, que família, que sociedade temos.
    Miserere nobis, Domine!

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