quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Da simples Capelinha à majestosa Matriz


Publico aqui um artigo do saudoso Hercule Giordano, quem tive o prazer de conhecer porém infelizmente sem aprofundar amizade. "HG", como também era conhecido, escreveu muito sobre nossa história, especialmente sobre Carioba. O texto a seguir foi publicado no jornal "O Liberal" em 1996 e fez parte do livro "Minhas Memórias" do Hercule. Ilustro o artigo com fotos tiradas do livro "Paróquia Santo Antônio - Um Século de Fé", livro temático do centenário da paróquia, publicado no ano 2000. (Na foto acima: imigrantes italianos em 1909).

Uma observação antes da leitura: Consta que certos dados referentes à construção da Nova Matriz, descritos por Hercule, estão imprecisos. Nada muito fora da realidade; nada que destoe muito dos números reais, mas fica aqui o aviso. Na verdade, em dezembro de 2012, pesquisando a história da Matriz Santo Antônio para realizar a exposição do centenário de monsenhor Magi, encontramos documentos que comprovaram que muita informação divulgada sobre nossa história está errada! Mesmo no livro do centenário da paróquia constam erros graves. Pretendo fazer algum artigo sobre isso em breve... só para constar, por exemplo, no livro do centenário e em diversas fontes se divulga que monsenhor Magi ganhou o título de monsenhor em 1963. Pesquisando em documentos antigos nos porões da Matriz, vimos nas atas da Pia União das Filhas de Maria que monsenhor Magi assinava "monsenhor" já em 1959... E de fato encontramos uma carta datilografada e assinada pelo próprio monsenhor relatando o recebimento do título de "monsenhor" em 1959. Bom... mas isso fica pra outro post aqui neste blog! Vamos ao artigo de HG:


Da simples Capelinha à majestosa Matriz

No século XIX, muitas famílias de italianos para cá migraram para substituir na lavoura, os escravos libertos. Muitas vieram do norte da Itália, onde Santo Antônio é bastante venerado. Vinte e oito famílias se instalaram na Fazenda Salto Grande, em colônia de casas construídas para suas habitações. Uma imagem de Santo Antônio, que os imigrantes trouxeram, foi colocada no casarão da fazenda para a reza do terço e ladainhas. Passado alguns meses, construíram uma pequena capela no terreno onde está instalada a indústria Santista [hoje Tavex Corporation], que ainda hoje, graças à boa intenção da firma, está sendo conservada. Lá, Santo Antônio foi escolhido para ser o nosso padroeiro.

Acima a capela construída pelos italianos e à esquerda a imagem de Santo
Antônio trazida de Pádua.













Ainda no final daquele século, Americana começava a dar mostra de seu progresso e, em mutirão, os italianos, com a colaboração dos devotos do santo, construíram a Velha Matriz. Com o tempo, a mesma foi recebendo várias ampliações para atender ao elevado número de fiéis. Tomando toda a praça, não havia mais condições de outras ampliações e, então, o padre Epifânio Estevam esboçou uma planta para a construção de uma nova igreja. Tendo falecido, seu esboço não foi realizado.

Quando tomou posse seu substituto, o padre Nazareno Magi, examinou a planta e considerou-a muito pequena, pois percebia que a população da cidade crescia rapidamente. Uma comissão de amigos foi chamada para a elaboração de uma nova planta. Arquitetos, engenheiros, construtores, todos apresentaram seus projetos arquitetônicos. Nada agradou o padre Magi. Não sabemos se por inspiração de Santo Antônio, o Sr. Onofre Boer apresentou a sua planta, que recebeu do padre Magi os elogios e, logo uma comissão se dirigiu à Campinas para apresentá-la ao então bispo diocesano Dom Paulo de Tarso Campos que, surpreso, falou: “Tenho minhas dúvidas se vocês conseguirão construir tão imponente igreja. Ela é para uma cidade de mais de 1 milhão de habitantes e não com 40 mil, como Americana”.

Maquete do novo projeto apresentado por Monsenhor Magi à população.
Começaram todos os serviços para que as obras fossem iniciadas rapidamente. Terreno preparado, desocupação dos prédios no terreno e o estaqueamento onde foram utilizadas 562 estacas de cimento armado para sua sustentação. A igreja mede 30 metros de frente por 87 da frente aos fundos.

Os recursos para o prosseguimento das obras foram frutos de doações: livro de ouro, quermesses, leilões e, assim, os trabalhos nunca foram paralisados.

Para se ter uma ideia de sua grandiosidade, vamos mencionar apenas os gastos mais elevados com a utilização de 2.150.000 tijolos, 34.800 sacos de cimento, 3.000 metros de pedra britada, 32.000 sacos de cal, 58 milheiros de telhas paulista, 5.600 metros de areia grossa e 5.400 metros de areia fina. Para se ter um cálculo, foram utilizados 40.000 metros de tábuas de pinho que, juntas, dá o percurso de Americana à Piracicaba. A nave principal mede 2500 metros quadrados com capacidade para 10.000 pessoas em pé.


A imagem de Santo Antônio, em cima da cúpula, mede 4,50 metros de altura. A pintura, toda ela representando textos bíblicos, foi executada pelos irmãos Pedro e Uldorico Gentile. Monsenhor Magi faleceu antes de terminar o acabamento. O padre Constantino Gardinali, atual pároco, deu sequência às obras, colocando em toda a igreja piso de mármore, bancos modernos e confortáveis. Construiu o altar acabando de assentar os restantes dos vitrôs, eletrificou os sinos, concluiu sua iluminação. Construiu as grades de proteção do templo, que agora tem um jardim com varias qualidades de flores, bem zelado por Antônio Baccan. O estacionamento de carros é de sua total manutenção.

O atual pároco tomou posse no dia 10 de agosto de 1972. Com o término do templo, o mesmo foi consagrado no dia 13 de junho de 1977, por Dom Antônio Maria Alves Siqueira, arcebispo metropolitano de Campinas, oficializando-o como templo de Deus.

Devido a sua grandiosidade, sua manutenção é onerosa, mas mesmo assim a igreja não obriga seus fiéis a pagar dízimos e nem mesmo estipula quantias. Cada paroquiano sabe do seu dever.

Os mais eficientes economistas dificilmente poderão calcular o total das obras e dificilmente uma cidade como a nossa conseguirá construir outra igual.

“O Liberal” apareceu logo depois do início da construção, e sempre abriu espaço em suas páginas aos movimentos da paróquia: quer religioso, quer popular, e por esse motivo toda a comunidade de Santo Antônio parabeniza o jornal pelos seus 44 anos de existência, toda ela voltada para o bem comum.

Todos estão convidados a participar da missa solene das 9 horas e 30 minutos, no dia do padroeiro, que será celebrada pelo bispo diocesano, Dom Ercílio Turco.

Hercule Giordano, “Minhas Memórias”. Editora Adonis,  2004.
Trata-se de um artigo de Hercule Giordano publicado no jornal “O Liberal” de 09/06/1996.











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